terça-feira, 30 de agosto de 2011

"Sempre chega a hora de arrumar o armário"... (Ana Carolina)

Quantas verdades cabem nesta canção?Alguém pode quantificá-las?

Estou aqui agora, meio que como esta menina na janela... Olhando o infinito e tentando imaginar qual a próxima cena da minha existência... Qual o próximo furacão, a próxima queda, o próximo estouro... A próxima esquina que terei que dobrar... Qual?

De repente (não mais que de repente) tudo resolveu desmontar (involuntariamente), como paredes erguidas com cartas, como castelo de areia em noite de tempestade...

É... Assim que me sinto agora: esvaindo-me... Escorrendo por entre os dedos do destino...

Antes era tudo vazio... Não, corrigindo, antes era SÓ VAZIO... Ai, ai... E a vida, num surto psicótico de generosidade, preencheu-me de tudo que sentia falta... Por um tempo cheguei a achar que eu merecia tudo que tinha... "É a vida acertando comigo as contas"...

Me deixei desarmar... Me deixei conduzir... Me permiti "deixar levar"... (o ruim de tudo isso é que nos fragilizamos pois amolecemos nossas barreiras e nos entregamos sem resalvas...)

Hoje, vejo que nada é pra sempre (principalmente se não depender só de você)... Que coisas "destoantes" o são por algum motivo... Que cada um precisa estar "de fato" em seu tempo...

Já vivi toda sorte de coisas ruins e nem acreditava mais ser merecedora de algo bom masssssss... Enfim, pude experimentar um naco daquilo que chamam de felicidade, bem estar, alegria, euforia, recompensa, "pote de outro no fim do arco-iris", etc, etc e etc... E pra quem não viveu coisas boas ainda eu digo: Se eu consegui, leia-se "mereci", qualquer um consegue, leia-se "merece"...

Mas sabe o que é ruim nisso tudo? Ver que você quer "o pote de ouro" por todo sempre mas este não deseja ficar... O "pote" prefere partir... E o que resta? As mãos encharcadas do sentimento de perda, de impotência e o gosto amargo de "quero mais" que nos satura as papilas... A sensação, cruel - diga-se de passagem, de que o vazio vai tornar a tomar teu ser e que a você só cabe "acostumar-se" com a perda daquilo que tanto te fez bem...

"Sempre chega a hora de arrumar o armário"...

Hoje, especialmente hoje, sinto tudo isso que consegui escrever... E sabe o que é pior? Sinto muito mais que isso...

"Que seja feita a Tua vontade"...

Amém!

"Sempre chega a hora..."



Sempre chega a hora da solidão
Sempre chega a hora de arrumar o armário
Sempre chega a hora do poeta a plêiade
Sempre chega a hora em que o camelo tem sede

O tempo passa e engraxa a gastura do sapato
Na pressa a gente nem nota que a Lua muda de formato
Pessoas passam por mim pra pegar o metrô
Confundo a vida ser um longa-metragem
O diretor segue seu destino de cortar as cenas
E o velho vai ficando fraco esvaziando os frascos
E já não vai mais ao cinema

Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você

Penso quando você partiu
Assim... sem olhar pra trás
Como um navio que vai ao longe
E já nem se lembra do cais
Os carros na minha frente vão indo
E eu nunca sei pra onde
Será que é lá que você se esconde?

Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você

A idade aponta na falha dos cabelos
Outro mês aponta na folha do calendário
As senhoras vão trocando o vestuário
As meninas viram a página do diário

O tempo faz tudo valer a pena
E nem o erro é desperdício
Tudo cresce e o início
Deixa de ser início
E vai chegando ao meio
Aí começo a pensar que nada tem fim..

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Tudo que sinto... Tudo que me permeia...



Não sei sentir, não sei ser humano,
Não sei conviver de dentro da alma triste, com os homens,
Meus irmãos na terra.
Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido.
Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo.
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri.
Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos.
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente.
Mas para toda gente isso foi normal e instintivo.
Para mim sempre foi a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto demais ou de menos.
Seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cotar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar pulos, de ficar no chão,
De sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas, de todas as sacadas
E ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos.

Trecho do texto "Passagem das Horas" de Álvaro de Campos

"Eu ando tão down"...


"Eu tenho uma espécie de dever,
de dever de sonhar,
de sonhar sempre,
pois sendo mais do que
uma espectadora de mim mesma,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E assim me construo a ouro e sedas,
em salas supostas, invento palco, cenário,
para viver o meu sonho
entre luzes brandas
e músicas invisíveis."

(Fernando Pessoa)