domingo, 4 de novembro de 2007

Quem me leva os meus fantasmas
Pedro Abrunhosa


Aquele era o tempo

Em que as mãos se fechavam

E nas noites brilhantes as palavras voavam,

E eu via que o céu me nascia dos dedos

E a Ursa Maior eram ferros acesos.

Marinheiros perdidos em portos distantes,

Em bares escondidos
Em sonhos gigantes.

E a cidade vazia,
Da cor do asfalto,

E alguém me pedia que cantasse mais alto.


Quem me leva os meus fantasmas,

Quem me salva desta espada,

Quem me diz onde é a estrada?


Aquele era o tempo

Em que as sombras se abriam,

Em que homens negavam

O que outros erguiam.

E eu bebia da vida em goles pequenos,

Tropeçava no riso, abraçava venenos.

De costas voltadas não se vê o futuro

Nem o rumo da bala

Nem a falha no muro.

E alguém me gritava

Com voz de profeta

Que o caminho se faz

Entre o alvo e a seta.


Quem leva os meus fantasmas,

Quem me salva desta espada,

Quem me diz onde é a estrada?


De que serve ter o mapa

Se o fim está traçado,

De que serve a terra à vista

Se o barco está parado,

De que serve ter a chave

Se a porta está aberta,

De que servem as palavras

Se a casa está deserta?


Quem me leva os meus fantasmas,

Quem me salva desta espada,

Quem me diz onde é a estrada?
(Ai, ai... Num momento de tantas mudanças, de medo, insegurança, solidão e ansiedade... Tem canção que ilustre tanto o que eu sinto além desta? )


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