quinta-feira, 4 de setembro de 2014

E depois de um tempo sem manifestar a indignação que habita meu ser...



O "sistema" engessa o ser humano, mina FILADAPUTAMENTE suas forças...

Ele rasga sua dignidade, sua esperança, sua fé... Ele te bate na cara e te compra por centavos... E você cala a boca, você abaixa a cabeça e permite que ele monte em suas costas e faça de você o burro de carga que ele pode conduzir colocando uma "cenoura" na sua frente e amarrando seus pés.

Pena que sejamos ainda "mente de alfinete"... 

E meu lombo que aguente o golpe do chicote...

Aqui eu assinaria com um belo palavrão... Mas fazer o que né? Sozinha eu sou só mais uma no pasto...


E hoje eu preciso citar trechos desse poema... 

Navio Negreiro
(Castro Alves)

"Presa nos elos de uma só cadeia, 
A multidão faminta cambaleia, 
E chora e dança ali! 
Um de raiva delira, outro enlouquece, 
Outro, que martírios embrutece, 
Cantando, geme e ri! No entanto o capitão manda a manobra, 
E após fitando o céu que se desdobra, 
Tão puro sobre o mar, 
Diz do fumo entre os densos nevoeiros: 
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros! 
Fazei-os mais dançar!..." 

X

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . 
E da ronda fantástica a serpente 
Faz doudas espirais... 
Qual um sonho dantesco as sombras voam!... 
Gritos, ais, maldições, preces ressoam! 
E ri-se Satanás!... 

X

Senhor Deus dos desgraçados! 
Dizei-me vós, Senhor Deus! 
Se é loucura... se é verdade 
Tanto horror perante os céus?! 
Ó mar, por que não apagas 
Co'a esponja de tuas vagas 
De teu manto este borrão?... 
Astros! noites! tempestades! 
Rolai das imensidades! 
Varrei os mares, tufão! 

X

Existe um povo que a bandeira empresta 
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... 
E deixa-a transformar-se nessa festa 
Em manto impuro de bacante fria!... 
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, 
Que impudente na gávea tripudia? 
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto 
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ... 

X

Auriverde pendão de minha terra, 
Que a brisa do Brasil beija e balança, 
Estandarte que a luz do sol encerra 
E as promessas divinas da esperança... 
Tu que, da liberdade após a guerra, 
Foste hasteado dos heróis na lança 
Antes te houvessem roto na batalha, 
Que servires a um povo de mortalha!... 

X

Fatalidade atroz que a mente esmaga! 
Extingue nesta hora o brigue imundo 
O trilho que Colombo abriu nas vagas, 
Como um íris no pélago profundo! 
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga 
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! 
Andrada! arranca esse pendão dos ares! 
Colombo! fecha a porta dos teus mares! "

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