Cheguei a acreditar, em algum
momento da vida, que iria engravidar de um grande amor neste ano de 2013 (como
já contei aqui neste espaço) e que seria um momento de extrema felicidade... Um
momento de plenitude... De realização...
“De repente”, eis que engravidei
mesmo, e de um sentimento bom até, mas me deparei com todo o outro lado da moeda
que eu não ousei jamais imaginar...
Passar por tudo isso sozinha me
remeteu a tanta coisa que tava lá, esquecida num passado tão distante, vagando
no “arquivo morto” do meu existir...
Sim, sou movida pela graça de
Deus, pois não sei como estou aguentando passar por tudo isso sem
enlouquecer...
Já senti dor física, emocional,
e sabe-se lá quantos tipos mais... Uma solidão tão gigantesca que, por vezes,
me engoliu, mastigou, deglutiu, esmagou...
Vaguei por unidades de saúde,
conhecendo muitos “sabores” de remédios, filas, salas de espera, humilhação,
gastos incontáveis, lágrimas, soluços, negativas... SOLIDÃO...
Vim até aqui passando por tudo
aquilo que nunca quis, nem pra mim nem pra ninguém...
Infiltrei-me na vida de quem não
mais queria, e comprei os momentos com um prazer insano, que só me mostrou que
não representava muita coisa... Nada que alguém não pudesse fazer melhor... E
isso me fez calar... Num silêncio que dói na alma, nos ossos e em todo o
resto...
Engravidei e senti tanta coisa
que nunca tive coragem de dizer, tanto medo, tanta angustia, tanta solidão,
tanta coisa mesmo...
Nesse estado nos sentimos tão
frágeis... Tudo nos atinge com tanta força...
Quantas vezes senti doer
fisicamente e vim pra casa sozinha, tomando um remédio qualquer, chorando até
adormecer e pedindo a Deus que não permitisse ser nada grave pois eu não tinha
com quem contar... Quantas vezes fui sozinha ao atendimento médico por não ter
sequer quem me levasse até lá... Quantas vezes eu passei mal, enjoei, tive
dores, tontura e outras coisas e tive que ficar ali, calada, por só ter as
paredes por testemunha?
É tão ruim viver isso assim...
Eu sonhei ter alguém que
segurasse minha mão quando eu sentisse medo, que me abraçasse na hora de
dormir, que me fizesse um chá, que me acompanhasse nas horas difíceis, nas
fáceis também... Que me ajudasse a descer as escadas, que me trouxesse um leite
morno pra diminuir a ansiedade... E no estágio em que me encontro agora, alguém
que me fizesse massagem nas costas, que me ouvisse falar dos medos sem me
recriminar nem dizer que sou pessimista ou “ruminante”... Só ouvisse, pois
quando falamos libertamos os fantasmas que se aprisionam em nós...
Hoje eu precisei ir ao hospital
tomar uma medicação para “amadurecer os pulmões” da minha filha que está apenas
com 7 meses... Eu só queria não ter ido sozinha, não ter que lidar com os
enjôos sozinha, nem ter que voltar pra casa e só encontrar as paredes
novamente...
Não sei mais o que será da minha
vida... Daqui a uns dias serei eu que terei que ir embora, por não ter ninguém
pra cuidar de mim, de minha filha... É tão triste constatar isso... Que será
assim... Que o sonho se partiu em mil pedaços, tão miúdos que nenhuma cola
seria capaz de colar... E eu que pensei que “da outra vez” tinha sido
difícil... Não, não foi... Eu tinha gente que me amava por perto e, mesmo dando
errado, deu certo... Agora eu só tenho a mim, meus medos silenciosos (por que existe
muita recriminação quando os manifesto), madrugadas frias e solitárias, dores
avulsas – não compartilhadas... Não há mais “olhos-nos-olhos”, só um “tá bem?”
atrasado... Só a confirmação do que eu não sonhava, mas imaginava...
E “de repente” sou apenas eu...
Só eu...
Enjoada, cheia de edemas,
dolorida, amedrontada, solitária, reprimida, machucada...
Somente eu...
Andando pelas ruas, correndo
atrás de direitos, do mecânico, do borracheiro, de “remédios naturais pra curar
a dor”...
Tudo tão vazio, tão oco, insosso,
insípido, tudo sem razão de ser...
Eu, a mobília e um imenso mundo
de incertezas...
Não imaginei nada disso... Nada
mesmo...
Agora sem emprego, sem casa, sem
rumo, sem apoio, só um “você sabia que ia ser assim, conforme-se”... Como se
“conformar” fosse a única saída... Ao menos anda me parecendo a mais
“conveniente”, a mais “fácil”...
E tudo se mostrou estranho do que
eu conhecia...
E tudo que eu conhecia passou a
parecer falso... Tudo passou a se apresentar como “de mentirinha”...
Não, eu não sou forte como
pensam, mas também descobri que não tenho a alternativa de ser fraca... Não
existe ninguém do outro lado da “fibra ótica”, só um “ocupado”, um “fora de
área ou desligado”, um “distante demais”...
Apenas eu sozinha...
Tanto faz ficar ou partir, eu
sempre estarei assim...
Não foi isso que eu imaginei que
seria...
E de agora em diante em que devo
acreditar? Em que devo me apegar?
Estou enfraquecida demais,
dolorida demais, sozinha demais...
Não acredito mais...
Não há mais no que acreditar...
Não há mais o que esperar...
Só existe eu, um punhado de
malas, um bebê e as incertezas todas...
“De repente” caem todas as
fichas, todas as desculpas, todos os “panos quentes”... É só você e mais
nada...
Não é união, são apenas “cordialidades”...
“Conforme-se”...
Poucas semanas me separam de
momentos complicados, de momentos complexos... E o que me resta? “De repente...
Não mais que de repente”...
Hoje eu chorei, pedi a Deus que
me permitisse chorar até cansar e cuspir tudo aquilo que tanto anda me
doendo... Acho que Ele me permitiu...
Meu silêncio, obediência,
obscuridade, clandestinidade não fazem de mim um ser forte, fazem apenas com
que eu me adapte, com que eu abaixe a cabeça, com que eu aceite que nada virá
além deste “quase nada”...
Eu que siga, mesmo sem saber
como...
Eu que cale, mesmo tudo dentro de
mim gritando...
Eu que sinta as dores, e tome um
chá “pra sarar a dor”...
Eu que entenda, que sou eu
apenas...
Eu que busque forças em Deus,
caso contrário...
Apenas “de repentes”...
A juventude passa pra todo mundo,
as superficialidades também... Um dia chega o momento de assumir as
responsabilidades, encarar os erros de frente, tomar decisões difíceis, arcar
com as conseqüências dos atos... Um dia a vida vai cobrar o preço, vai mostrar o
tamanho da nulidade, da passividade, do ordinário que tanto julgamos
“superlativo”...
Eu, um futuro incerto, um
silêncio doloroso, um vulto do que tinha que ser e não foi, um velório de tudo
que se “sonhou” e não foi, um surto de racionalidade, uma fragilidade escondida
em “tudo bem”, ”eu resolvo”, “vai passar”, “não tenho alternativa”... São medos
e angustias engolidos a seco por não terem coragem de se mostrar e sofrer
represálias...
Eu, apenas eu e os “de
repentes”...
Já bem disse o poeta: “Ainda é
cedo amor, mal começastes a conhecer a vida”...
“De repente” seja isso... O “mundo”
seja apenas “um moinho”...
Vou seguindo assim, fingindo uma
força que não tenho, calando meus medos por medo, seguindo contando apenas com
isso... Comigo e os meus “quase nadas”... Quem sabe “de repente” “há de apagar
uma estrela no céu cada vez que ‘ocê chorar”... “O contrário também bem que
pode acontecer, de uma estrela brilhar quando a lágrima cair”...
E “de repente” me veio a frase do
Oswaldo: “Quando eu não estiver por perto canta aquela música que a gente
ria... É tudo que eu cantaria, e quando eu for embora, você cantará”...
Sem mais... Sem mais...
(Escrevendo por não saber
dizer... Escrevendo pra não enlouquecer... Escrevendo pra tirar de mim... “De
repente, não mais que de repente”...)